Gestão: A base fundamental para o sucesso na fazenda
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A bovinocultura é uma atividade complexa que envolve diversos aspectos relacionados à criação e ao manejo dos animais. Um dos principais indicadores utilizados para avaliar o desempenho dos bovinos é o Ganho Médio Diário (GMD), que representa a média do peso vivo ganho pelo animal durante um período apresentado por um dia, e o Rendimento de Carcaça (RC), que representa a porcentagem de carcaça (carne, ossos e gordura) que o animal conseguiu desenvolver até aquele momento.
No entanto, será que o GMD e o RC são métricas realmente eficazes para avaliar o resultado da terminação de uma propriedade?
Neste texto, iremos explorar essa questão, considerando a anatomia dos bovinos e a composição do peso dos animais, para compreender melhor os diferentes aspectos envolvidos no sucesso e ressaltar que o Rendimento do Ganho (RG) na bovinocultura é a variável que devemos ter como base, principalmente no período de engorda.
Ao colocarmos um bovino na balança e visualizarmos um determinado peso, é importante ter em mente que esse peso é composto por três grandes grupos:
O conteúdo do trato gastrointestinal refere-se ao alimento ingerido pelo animal que se encontra dentro de todo o aparelho digestivo do bovino, incluindo a água não metabolizada e recentemente ingerida.
Os componentes não-carcaça englobam os órgãos, como fígado e aparelho digestivo, as patas, couro, a cabeça e tudo aquilo que é retirado da carcaça no momento do abate.
Já a carcaça é considerada a moeda de troca do pecuarista, representando aquilo que ele recebe pela produção. É o resultado do processo, pesado pelo frigorífico e registrado como o peso da carcaça.
É importante destacar que a proporção desses três grupos pode variar em função de diversos fatores na vida do animal, tais como: genética, idade, tipo de suplementação, valor energético da dieta, época do ano etc.
Para se ter uma ideia, o conteúdo do trato gastrointestinal pode variar de 4% a 12% da composição do ganho diário, os componentes não-carcaça variam entre 30% e 36%, e a carcaça varia entre 52% e 60%. Exemplificando, se falamos que um animal teve um GMD de 1000g em um determinado período, esse não foi o seu peso ganho em carcaça. Os diversos fatores citados acima corrigem e proporcionam um ganho em carcaça que pode variar de 500g a 600g.
Outra observação que precisamos fazer é que até o período da recria, na maioria das vezes, o animal viveu no pasto e muitas vezes recebeu no máximo um suplemento proteico de baixo consumo. Esse tipo de suplementação, apesar de aumentar o ganho de peso, não interfere diretamente na composição da carcaça. Nesse caso, a relação entre carcaça e não carcaça começaria a ter uma interferência mais direta quando a suplementação tiver um efeito substitutivo ao pasto, aumentando a taxa de digestão e passagem e diminuindo as vísceras com maior eficiência alimentar.
É válido lembrar também que até a fase da recria, alguns sistemas, como por exemplo o nervoso e o esquelético, bem como toda a organogênese, já estarão completados. Para a fase de engorda, caberia completar a hipertrofia muscular (enchimento das células musculares) e a hipertrofia dos adipócitos. Isso ocorre de acordo com a cronologia da curva de crescimento.
Para entendermos claramente o que é o Rendimento do Ganho (RG), precisamos, primeiramente, diferenciar essa métrica do Ganho Médio Diário (GMD) e do Rendimento de Carcaça (RC). O GMD representa o ganho de peso geral do animal por dia, que pode ser influenciado tanto pelo desenvolvimento das vísceras quanto pelo aumento do conteúdo alimentar, levando a uma coleta de informações que abrange desde um ganho compensatório até uma ilusão de ganho em carcaça.
Por exemplo: Observamos que alguns animais recém-adquiridos tiveram um GMD no período de 10 (dez) dias após a chegada à fazenda de 1,8 kg. Nos 10 dias seguintes, esse valor caiu para 1,5 kg, e nos últimos 15 dias, o GMD diminuiu ainda mais, para 1,1 kg. Esse aumento inicial no GMD pode indicar a recuperação do trato gastro-intestinal e/ou parte desse peso pode ser devido ao conteúdo alimentar. Portanto, não podemos analisar apenas o GMD e concluir que nosso negócio está indo bem, já que o peso depositado nos tecidos da carcaça (ossos, músculos e gordura) é o que realmente importa para o aumento da lucratividade na fazenda.
Por outro lado, o RC é uma métrica estável que reflete o desenvolvimento da carcaça que o animal acumulou desde a fase embrionária até o período analisado. O RC pode ser muito útil na avaliação da produtividade da terminação, uma vez que é essa variável que molda os números utilizados no cálculo do rendimento do ganho. Observe na fórmula abaixo a importância do RC para a conclusão do cálculo:
O peso vivo final e inicial são fáceis de obter. No entanto, para determinar os pesos iniciais e finais da carcaça, precisamos seguir a seguinte abordagem:
Como não podemos abater o animal para obter o peso da carcaça inicial, mas temos conhecimento da sua curva de crescimento, estimamos um rendimento de carcaça de 50%. No entanto, se o animal estiver vindo de uma suplementação com mais grãos ou tiver uma genética com maturidade, podemos ajustar esse RC para 51% ou 52%. Já o peso da carcaça final pode ser obtido a partir do registro de abate no frigorífico.
A primeira impressão é a que fica... Embora seja uma conta simples para alguns, para outros a conta é mais complexa. Para quem ainda não entendeu, a ideia do rendimento do ganho é mais fácil de ser compreendida quando utilizamos o conceito do RG junto com a fórmula.
Portanto, se o rendimento do ganho é a quantidade de carcaça contida no ganho de peso corporal na fase de terminação, excluindo o trato gastrointestinal e os componentes não carcaça em relação ao peso vivo no momento do abate, isso significa que, ao utilizar dietas mais concentradas e menos fibrosas, mas seguras, podemos alcançar valores muito superiores a 53%, 54% ou até 58% de rendimento. Conseguimos atingir valores de rendimento do ganho em carcaça de 66%, 67% ou até 87% (Coleman et al., 1995).
O gráfico abaixo representa claramente a diferença na composição da carcaça entre um animal que passou pela fase de recria e um animal que já completou o processo de terminação.
Depois de todas explicações e observações feitas faremos agora uma simulação de como deve ser feito o cálculo do rendimento do ganho. No exemplo o animal entrou na terminação com 400 kg/PV e observou-se um peso final de 540 Kg/PV. No romaneio observou-se um rendimento de carcaça de 56%.
E essa é a conta que deve ser feita para determinarmos com precisão quantas arrobas em carcaça o animal que submetemos ao processo de engorda nos proporcionou. Para realizar o balanço financeiro, ao termos conhecimento do valor que receberemos por cada arroba produzida e sabermos a quantidade de arrobas em carcaça gerada durante o período de engorda (rendimento do ganho), torna-se simples calcular a receita obtida durante esse período.
Por outro lado, se estivermos cientes do custo total diário (incluindo o custo alimentar diário e o custo operacional diário) e soubermos por quantos dias o animal foi engordado, poderemos calcular o custo total da engorda. A diferença entre esses valores representará o lucro bruto da engorda na fase de terminação. No entanto, ainda será necessário deduzir desse lucro os encargos tributários relacionados ao abate, a fim de obtermos o lucro líquido real da engorda.
Para avaliar se todos compreenderam e se a explicação ficou clara, concluímos esta matéria do nosso blog com uma pergunta: Qual animal proporcionou um lucro maior ao pecuarista?
Com certeza, uma pessoa que não compreenda o conceito de RG ou que não tenha lido esta matéria poderá presumir que o animal com o maior Ganho Médio Diário (GMD) (1.550 kg/dia) foi o mais lucrativo, certo? No entanto, quem pensou assim está equivocado! Isso porque o animal 1 teve um Rendimento do Ganho (RG) de 66%, enquanto o animal 2 teve um RG de 79%. Para aqueles que entenderam o conceito de RG e realizaram os cálculos, perceberam que ambos os animais tiveram um ganho em carcaça de 1,023 kg/dia, ou seja, 1.023 g/dia. Em outras palavras, o que o pecuarista vende ao frigorífico é a carcaça e nessa comparação, o resultado foi o mesmo. No entanto, nesse caso, é o custo da dieta que pode determinar qual animal será mais lucrativo.
Ao levar em consideração todos esses aspectos, o pecuarista terá uma visão mais abrangente de seu negócio e poderá tomar decisões mais assertivas em relação ao manejo, nutrição e seleção genética dos animais. Compreender o mercado de grãos e estar atento aos preços futuros pode contribuir significativamente para aumentar a lucratividade. Como pôde perceber, entender o conceito de rendimento do ganho pode auxiliar em seu negócio e resultar em melhores resultados financeiros!
Por: Cássio Augusto Pinto. Engenheiro Agrônomo e Supervisor Rico |
Bibliografia:
Coleman, S.W., et al. 1995. Silage or limited -fed grain growing diets for steers. I. Growth and carcass quality. J. Animal Sci. 73:2609