Gestão: A base fundamental para o sucesso na fazenda
Ler mais
O Brasil possui uma oportunidade muito grande em fornecer proteína de alto valor biológico para o mundo, pois possui terras, clima e recursos humanos capazes de produzir não só comodities, mas carne de qualidade.
A oportunidade comercial que temos em relação a bovinocultura de corte com os países europeus e, principalmente asiáticos, possibilita o aumento da nossa produtividade de forma sustentável.
Nos últimos anos os trabalhos e pesquisas desenvolvidos por técnicos, iniciativa privada e governo vem desmistificando algumas ideias e ajudando o pecuarista a aumentar seus lucros, encaixando-se no mercado do futuro. Antigamente abatia-se um boi aos 48 meses e, agora, a possibilidade de abate aos 24, 28 e 30 meses gerou maior retorno ao fazendeiro e melhor qualidade de carne no mercado cada vez mais exigente.
Um dos exemplos é a carne destinada ao mercado chinês denominada “boi china” que precisa cumprir alguns requisitos, dentre eles: ter menos de 30 meses de idade no abate, ter no máximo quatro dentes ao abate e ser livre de doenças, ou seja, é necessário maior cuidado em relação a genética, sanidade, manejo, ambiente e principalmente nutrição.
Para se ter sucesso na produção do boi china e conseguir a remuneração extra pela arroba comercializada devemos seguir alguns cuidados. Costumamos falar que antes de qualquer desafio proposto para um lote de animal na fazenda, o mínimo que se tem que ter é a base. Nesse caso “a base” são as estruturas da fazenda. Deve-se preocupar com água, cerca, cocho, pasto e tudo que possibilite a aplicação de técnicas mais rentáveis o ano todo.
Outra coisa que devemos salientar é que existem tipos de bezerros e garrotes cuja origem da compra e o mês de nascimento/desmama interferem diretamente no sucesso do “boi China”! Os bezerros nascidos em agosto e setembro são os melhores, pois são programados ainda no ventre materno para ter mais possibilidade de precocidade e desempenho, já que suas mães tiveram oferta de pasto na maior parte do período gestacional. Esses bezerros são denominados bezerros do cedo e, quando desmamados em abril e maio, são os mais pesados e entram no período de recria geralmente mais adaptados.
Quando citamos mais acima sobre a base estar preparada, quisemos chamar a atenção para o pasto durante todo o ano, mas principalmente, para os períodos de seca e os cuidados nutricionais desses animais na estiagem. Se pegarmos uma desmama de 210kg de média e desafiarmos apenas com suplemento mineral, com certeza, esses perderão peso na seca e não conseguirão chegar aos 30 meses com o peso de abate. Na simulação que fizemos compilando consumo, GMD e período vimos isso:
ESTRATÉGIA |
GMD ESPERADO (KG) |
CONSUMO/DIA | DIAS | GANHOS (KG) |
SUPLEMENTO MINERAL | 0,25 | 0,125 | 660 | 165 |
Já no caso do uso do adensado no período de seca não teremos os ganhos necessários e os animais chegarão aos 30 meses com peso de garrote pronto para a terminação. Na simulação que fizemos observamos que chegaram aos 30 meses de idade com aproximadamente 14@. Necessitando ainda do tempo para engorda, prolongando a idade ao abate (fora do boi china).
ESTRATÉGIA | GMD ESPERADO (KG) | CONSUMO/DIA | DIAS | GANHOS (KG) |
ADENSADO | 0,325 | 0,181 | 660 |
214,5 |
Então já temos um resultado a seguir, ou seja, com apenas suplemento mineral e/ou suplemento adensado não se consegue atingir o peso de abate aos 30 meses de uma animal desmamado com 7@!
Quando fizemos a simulação do uso do proteico de baixo consumo desde a desmama até os 30 meses conseguimos levar esse animal a 18@ onde utilizamos um rendimento de 51%. Para a pecuária que visa maior lucro tirar proveito da carcaça é primordial e, observamos que, na utilização do proteico para a recria e a engorda pela diminuição da quantidade de arrobas produzidas a lucratividade fecha no vermelho.
ESTRATÉGIA | GMD ESPERADO (KG) | CONSUMO/DIA | DIAS | GANHOS (KG) |
PROTEICO BAIXO | 0,475 | 0,530 | 660 |
313,5 |
Então mais uma vez se preparar para a seca e ter maiores ganhos nas águas se mostrou mais eficaz e está associada com a ideia de “empurrar o carro na descida” (colocar mais peso nas águas tirando o máximo proveito do pasto e economizando com a suplementação). Na simulação, o uso do proteico de baixo consumo desde a primeira seca pós-desmama até a segunda seca e a utilização do proteico-energético de alto consumo posteriormente até os 30 meses possibilitou a produção de aproximadamente 21@ e gerou mais lucro que as estratégias anteriores onde se trabalhou o tempo todo com os animais no pasto.
ESTRATÉGIA | GMD ESPERADO (KG) | CONSUMO/DIA | DIAS | GANHOS (KG) |
PROTEICO BAIXO E POTENCIALIZADO | 0,555 | 0,678 | 660 |
366 |
Se pararmos para pensar e escutarmos os pecuaristas e os especialistas que trabalham na produção do boi China, a primeira coisa que discutiremos é a importância do preço do estoque para a viabilidade da estratégia, pois o preço de compra é o “start” para a diminuição no custo da arroba produzida.
Então, nas explicações acima, fica evidenciado que a suplementação com o proteico de baixo consumo desde a desmama, passando por duas secas, e a utilização do proteico-energético de novembro a fevereiro, que coincide com os 27º, 28º, 29º e 30º mês do prazo do boi China, apresenta melhor lucratividade do animal criado exclusivamente a pasto e pode ser uma das estratégias nutricionais adotadas.
Alguns pecuaristas que investem em manejo de pasto (rotacionando, corrigindo e/ou adubando) retornam os animais para um suplemento mineral adensado quando os animais estão passando pelo período da primeira chuva pós-desmama e obtêm ganhos expressivos com a diminuição no custo da suplementação nesse período, sendo um ajuste na nutrição que pode ser feito.
Porém, a intensificação da produção deve ser adotada principalmente nas regiões que são circundadas por lavouras. A oferta de produtos e coprodutos que podem ser utilizados na engorda mais intensiva abre possibilidade para o semiconfinamento, terminação intensiva a pasto e confinamento, auxiliando o pecuarista na manutenção dos pastos da fazenda e gerando mais lucro dependendo do preço dos insumos.
Na simulação que fizemos, fica evidenciado que as estratégias de engorda intensiva nos meses de junho, julho e agosto, além de diminuir o tempo do animal na fazenda, geraram mais lucratividade.
Então, as estratégias que se mostraram mais eficazes na produção de arrobas e melhor lucratividade foram as que utilizaram melhor o pasto, evitando o “boi sanfona”, e potencializaram seu desempenho nas águas, adensando cada vez mais o suplemento, levando a menor tempo no pasto e maior possibilidade de lucro no negócio.
No final, o lucro a mais que o pecuarista recebe na arroba do “boi China” pode ser explicado pela maior intensificação da pecuária na sua fazenda e pode ser usado em mais investimento para aumento dos lucros.
Dr. Pedro Paulo Tsuneda
Dr. em Ciência Animal e Gestor Técnico Rico