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Você já parou para pensar que, para uma fazenda melhorar sua lucratividade, em algum momento, ela terá que aumentar o ganho médio diário (GMD) dos seus animais e a quantidade do seu rebanho? Isso se dá porque, na bovinocultura de corte, cada cabeça de gado é vista como uma “parcela” que recebe um investimento para retornar para o pecuarista o lucro. A pergunta que fica é: “Em qual momento conseguimos os maiores GMDs e a maior taxa de lotação?” A resposta é simples!

No período das águas. Nesse material, pontuaremos como a suplementação correta no período das águas pode tornar sua fazenda muito mais lucrativa, tirando o máximo proveito dos pastos, ajudando no manejo da forrageira e extraindo o potencial de desenvolvimento dos animais.

Para isso, inicialmente, você terá que entender como funciona a dinâmica dos alimentos no rúmen durante o retorno das águas, pois é isso que justifica seu maior desempenho.

O QUE ACONTECE NO RÚMEN QUANDO CHEGA O PERÍODO DAS ÁGUAS?

Com a retomada das chuvas, os pastos rebrotam, e esses brotos possuem em sua composição mais proteína bruta (PB) e fibra mais digestível. Ou seja, de forma direta, observamos maior multiplicação bacteriana (que são os soldados que digerem os alimentos no rúmen) e mais alimento disponível para esses soldados. Resumindo, o pasto ingerido pelo animal será digerido muito mais rápido do que no período de seca, além de ser muito mais aproveitado. Em termos técnicos, chamamos isso de aumento da taxa de digestão e da taxa de passagem.

A composição do pasto no início das chuvas pode trazer um problema para o pecuarista, que é o "churrío" ou diarreia do broto, e desde esse momento a suplementação pode auxiliar a fazenda. Lembro de alguns pecuaristas mais velhos falarem que quando chegasse as águas, o gado tinha que comer mais milho (energia).

A ideia deles estava e está certa e é baseada no equilíbrio da relação proteína-energia. Ou seja, a suplementação mais energética com proteicos-energéticos e rações no período de transição seca-águas pode ajudar a salvar animais muito debilitados, preparar fêmeas (novilhas, primíparas e multíparas) para a reprodução, aproveitar o potencial do crescimento de bezerros(as) e embalar animais de recria e engorda, pois aproveitarão mais o pasto e não terão diarreia.

Uma vez estabelecidas as chuvas e os pastos na altura certa de entrada dos animais, a estratégia escolhida pelo fazendeiro vai refletir no seu lucro. Para esse ponto, temos que chamar a atenção do efeito aditivo ou substitutivo do suplemento. Os suplementos minerais aditivados, adensados, energéticos e proteicos de baixo consumo apresentam efeitos aditivos, ou seja, irão somar com o pasto, interferindo pouco no GMD e não interferindo diretamente na taxa de lotação e no consumo de matéria seca (MS).

É válido lembrar que, na introdução do texto, ressaltamos que as ideias aqui citadas seriam para ajudar o amigo pecuarista a aumentar a produtividade da fazenda, e que para isso precisaríamos aumentar o GMD e o rebanho. Então, um dos grandes segredos da pecuária atualmente é a utilização de suplementos de consumos mais altos, como por exemplo os proteicos-energéticos (0,3-0,6%/PV/dia).

Esses suplementos apresentam um efeito substitutivo ao pasto, ou seja, quando os animais estão recebendo esse tipo de suplementação no cocho, eles consomem menos pasto possibilitando para o pecuarista aumentar a taxa de lotação. Apesar de os animais consumirem menos pasto na suplementação proteico-energética, o consumo de matéria seca total (suplemento + pasto) é maior. Isso se dá pelo aumento da taxa de digestão e de passagem, resultando em maior GMD e um maior rendimento de carcaça. Nesse momento, o animal está consumindo mais energia e mais proteína oriundos da combinação suplemento-pasto.

QUAIS AS OUTRAS VANTAGENS DA SUPLEMENTAÇÃO COM MAIS GRÃOS NAS ÁGUAS?

Outra vantagem seria na eficiência do pastejo. Por consumirem menos pasto, os animais se locomovem menos e gastam menos energia, melhorando seu desempenho. Ao analisar o comportamento animal, observamos que eles pastejam nos períodos mais frescos, e podemos usar isso a favor do seu desempenho.

Como o suplemento, na maioria das vezes, tem sabor atraente, o indicado é fornecê-lo no período mais quente do dia (10:00 às 14:00h), pois o animal já terá pastejado e o consumo do suplemento será a combinação perfeita para o aumento da digestão, aproveitando o período de descanso e ruminação. Uma coisa que tem que ficar clara é que, quando aumentamos o GMD dos animais, diminuímos o tempo que esses animais ficarão na fazenda. Além disso, o custo de ter esses animais no pasto é oneroso e temos que contabilizar isso. Em outras palavras, o pecuarista tem que cobrar o arrendamento dele mesmo; e outra, uma forma de aumentar a sua lucratividade é aumentar o giro de animais, ou seja, produzir mais em menos tempo.

Podemos salientar também que os custos com a reforma de áreas degradadas estão cada vez maiores e a utilização de uma suplementação com efeito substitutivo ajuda o pecuarista no manejo do pasto, podendo ser uma estratégia para o descanso de uma área, diminuição da degradação e aparecimento de invasoras, etc. Quer ver um exemplo? A exploração do potencial de produção de massa de forragem dos cultivares Panicum maximum nas águas associado com um suplemento com efeito substitutivo é uma estratégia indicada não só para aumentar a massa de forragem na fazenda com o descanso de algumas áreas, mas também pode-se fazer a “vedação” de áreas de Brachiarias spp no período de transição águas-seca para serem utilizadas na seca.

E as vantagens não param por aqui. A suplementação mais intensiva pode ser utilizada em qualquer segmento do sistema: cria, recria e engorda; e entender do mercado pode ser a chave para girar a engrenagem, onde se perde o medo e inicia-se um período de análises, compilação de dados e medições.

MAS AFINAL, QUAIS CATEGORIAS POSSO UTILIZAR NA SUPLEMENTAÇÃO MAIS INTENSIVA?

Se você chegou até aqui no texto, pode estar pensando que a suplementação mais intensiva para as fêmeas de cria será inviável. Porém, no caso das vacas, a utilização do efeito da programação pré-fetal, fetal e flushing são as chaves para o aumento da produtividade.

A ideia de programação pré-fetal é que as vacas e os touros que estão melhor nutridos apresentarão melhores oócitos e espermatozoides, respectivamente. Isso gera um melhor embrião, dando a possibilidade de um feto e um bezerro melhores. Esses cuidados nutricionais acontecem antes da concepção. Já o efeito flushing é direcionado para o aumento no número de gestações, pois aumenta a possibilidade de a fêmea entrar no cio. Geralmente ocorre após o parto ou em fêmeas magras.

Tanto para antecipação de puberdade quanto para melhoria na eficiência reprodutiva de primíparas, a suplementação mais intensiva é necessária. Além disso, a utilização de um suplemento de Creep Feeding de consumo mais aberto faz com que os bezerros(as) aproveitem mais o potencial e a curva de crescimento.

A recria é o período mais desafiador da pecuária por durar mais tempo e ter a necessidade de passar por um momento de seca. Existem estudos e escolas de diferentes ideias. Uma é o fornecimento do proteico de baixo consumo na seca, e a outra é fornecer um suplemento mais intensivo mesmo na seca; porém, todas sugerem que na retomada das águas, o suplemento utilizado seja de consumo maior. A razão para a indicação de uma suplementação mais intensiva nas águas é que seria mais fácil empurrar o carro na descida, e não podemos perder essa oportunidade.

Além disso, dependendo de como o animal passou a primeira pode ser o diferencial dos resultados no final das águas, tendo a possibilidade de entregar um animal bem mais preparado e adaptado para a terminação em confinamentos. Nesse caso, os animais já entrariam embalados para a engorda. E não podemos deixar de falar da engorda a pasto que utiliza de todas as explicações acima buscando obter uma arroba produzida de forma mais barata e que representa a maioria dos abates no Brasil. Existem anos em que a diferença entre os custos dos ingredientes da formulação e o preço pago pela arroba no frigorífico não justificam a utilização da ração na terminação. A estratégia nesses anos de ciclo de baixa é tirar o máximo proveito do pasto junto com um suplemento mineral de alto consumo.

Por fim, a pecuária deve ser analisada como fazem os agricultores em suas plantações; e não se trabalhar os animais como "parcelas" que recebem o investimento e nos fornecem o lucro! O pecuarista deve medir quanto foi investido em cada hectare e quanto se produziu de arrobas no espaço/período. Até porque, como foi citado lá na introdução, a única forma de aumentarmos a produtividade da fazenda de forma significativa é através do aumento do GMD e da taxa de lotação. Além disso, muitos fazendeiros "vêm fechando no vermelho" há muitos anos, e esses não farão parte do sistema nos próximos anos.

Dr. Pedro Paulo Tsuneda

Dr. em Ciência Animal e Gestor Técnico Rico