Gestão: A base fundamental para o sucesso na fazenda
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Em tempos em que as margens de lucro da pecuária estão cada vez mais baixas e os mercados consumidores, cada vez mais exigentes, a saída para o setor é a intensificação de forma sustentável.
Quando falamos em sustentabilidade, não podemos esquecer do tripé: ambiental, social e financeiro, onde o pilar financeiro pode impulsionar e auxiliar nas ações de preservação ambiental e conscientização social.
Vale lembrar que a pecuária no estado se iniciou com a implantação de pastagens e a evolução natural do rebanho. Devemos muito a esse começo árduo e extensivo. Hoje, com o avanço da genética, cuidados com manejo, sanidade e ambiente, é possível produzir mais em menos tempo, com menor área e maior lucratividade.
Talvez vocês já tenham visto ou ouvido nas redes sociais um famoso pecuarista dizendo que “o gado deve ser criado com capim e que é o capim que torna a pecuária lucrativa”. E um outro especialista em produção de carne afirmando que, “atualmente, quem não adiciona grãos à dieta dos bovinos está lucrando menos”! QUAL DELES VOCÊS ACHAM QUE ESTÁ CERTO?
Essas reflexões mostram como será a pecuária do futuro, pois ambos os especialistas estão corretos. Ao combinarmos as ideias dos dois, conseguimos produzir mais em menos tempo, de forma mais econômica e com maior qualidade, sempre visando a sustentabilidade.
Para isso, é fundamental entender a demanda nutricional de cada fase do animal e como a suplementação adequada pode maximizar o potencial de desenvolvimento através da expressão genética.
Atualmente, ao compreendermos o ciclo plurianual do gado, sabemos que quem dita o ritmo e os preços na bovinocultura é o bezerro(a). A maior oferta ou ausência dessa categoria no mercado tende, nos anos seguintes, a reduzir ou elevar o preço da arroba, respectivamente.
A primeira ideia que precisamos entender é que “o cio da vaca ainda entra pela boca”, ou seja, a quantidade de reservas corporais (gordura na carcaça) é capaz de sinalizar ao corpo da fêmea que ela está pronta para gerar um novo descendente. Curiosamente, as crias de vacas adequadamente suplementadas e com potencial genético tendem a se destacar na recria e na engorda. Portanto, se busco bons resultados na recria e na engorda, preciso me atentar aos bezerros(as) que escolherei para essas fases.
No passado, o gado não recebia qualquer tipo de suplementação e recorria ao sal do suor, cascas de árvore, ossos, salinas de açudes secos, entre outros. No entanto, seu desenvolvimento era tardio e incompleto. Com o tempo, introduziu-se o sal comum (NaCl), o que levou a uma leve melhora no desempenho das fêmeas e dos machos.
Posteriormente, foram adicionados macro e microminerais ao sal comum, o que revolucionou as fazendas de cria, pois esses elementos contribuíram para a imunidade, formação e funcionamento adequado dos órgãos, reduziram o estresse fisiológico e oxidativo, melhoraram a eficiência reprodutiva e agiram diretamente na homeostase do animal. O suplemento mineral pronto para uso tornou-se, e ainda é, o produto mais utilizado nas fazendas de cria. Assim, acreditava-se que a suplementação das vacas estava definida e que o produto ideal para fazendas produtivas havia sido encontrado.
No entanto, a primeira ideia a considerar é que a pluviosidade e o clima no Brasil variam ao longo do ano. No período das águas, temos um bom desenvolvimento das gramíneas, enquanto no período da seca, a falta de alimento faz com que a vaca perca peso. Isso afeta negativamente o desempenho dos bezerros(as) destinados à recria e à engorda. Curiosamente, o suplemento mineral de pronto uso (sal 40, 60, 65, 80) não fornece proteína, energia nem auxilia na fermentação e aproveitamento da fibra.
Esse cenário nos remete aos dois especialistas mencionados anteriormente. O senhor que defende o pasto como base da pecuária está absolutamente certo, pois um animal adulto (vaca ou touro) consome muita forragem. Se não houver oferta e qualidade, os ganhos no período das águas serão menores e as perdas na seca serão maiores. O suplemento mineral de pronto uso, nesses casos, não ajuda diretamente a manter o escore de condição corporal.
Estamos, então, entrando em uma era de inovação na suplementação das vacas, que pode nos ajudar a produzir bezerros(as) de melhor qualidade para o mercado. Isso nos remete ao outro especialista, que defende a adição de grãos para tornar a pecuária mais lucrativa.
A inovação na suplementação das vacas consiste no uso de produtos mais densos, promovendo ganhos mais expressivos no período das águas e minimizando as perdas na seca. Estamos falando de um suplemento adensado para uso durante todo o ano. Esse produto não interfere no manejo da fazenda, pois a frequência de fornecimento e o dimensionamento da borda de cocho (4-8 cm/animal) são similares aos de um suplemento mineral de pronto uso ( sal 60, 80 , 90).
A combinação de grãos, ureia e aditivos com macro e microminerais, somada à disponibilidade de pastagem de boa qualidade, resulta em ganhos de 40 a 60 gramas adicionais por dia, ou 15 a 18 kg de peso vivo por vaca ao ano. Esses quilos extras fazem toda a diferença, aumentando a taxa de prenhez e o peso dos bezerros desmamados.
Agora imagine uma vaca emprenhando no início das águas (outubro-novembro), parindo no final da seca (agosto-setembro) com escore 3 (escala de 1-5), emprenhando novamente no início das águas (outubro-novembro) e desmamando o bezerro nascido em abril. Esse é o “bezerro do cedo”, programado no ventre materno para se destacar quando “cair no chão”! Além disso, se a vaca desmamar em abril, temos o mês de maio para recuperar o escore das que estiverem mais magras, aproveitando os pastos do final das águas com um suplemento proteico ou proteico-energético. ESSA É A PECUÁRIA MODERNA E SUSTENTÁVEL!
Outro tema amplamente debatido é o creep-feeding para bezerros. O peso do bezerro no momento da desmama pode representar metade do peso de abate, atraindo-nos para uma recria intensiva a pasto e uma engorda intensiva, reduzindo o tempo de abate e maximizando o uso das áreas e recursos. Ouvimos frequentemente que o creep-feeding é caro, trabalhoso e não compensa. No entanto, considerando que o bezerro é o motor da pecuária, quem não investir na suplementação dessa categoria está perdendo em lucratividade.
Outro argumento em declínio é a ideia de que suplementar a vaca antes e depois do parto não compensa. Suplementar de forma mais densa antes e depois do parto ajuda a diminuir o “anestro pós-parto”, permitindo que a vaca retorne ao cio mais rapidamente. Em experimentos, observamos que a suplementação da vaca melhorou seu peso e escore, e o creep-feeding melhorou o peso dos bezerros. Quando apenas as vacas receberam suplemento proteico de baixo consumo (águas e seca), houve pouca diferença no peso e escore das vacas e no desempenho dos bezerros em relação ao grupo com suplementação proteica (0,15% do peso vivo/dia/vaca) e suplementação proteico-energética (0,3% do peso vivo/dia) para os bezerros(as).
Esse resultado foi explicado por um estudo comportamental, onde se observou que os bezerros do grupo com suplementação proteica de baixo consumo para as vacas começaram a consumir o suplemento da mãe por conta própria. Após o ajuste da borda de cocho para todos os animais, os resultados foram semelhantes aos dos bezerros que também receberam creep-feeding, indicando que é possível suplementar apenas a vaca e obter resultados satisfatórios.
No mesmo experimento, após a desmama, iniciou-se a recria de todos os grupos experimentais, com suplementação proteico-energética (0,3% do peso vivo/dia) para todos os bezerros(as), avaliando a idade da puberdade. Os resultados mostraram puberdade total nas fêmeas suplementadas aos 14 meses, em comparação com 50% das fêmeas cujas mães consumiram apenas suplemento mineral 80. No grupo com suplementação materna e creep-feeding, a puberdade nas fêmeas ocorreu entre os 10 e 11 meses, mais cedo que nos demais grupos.
Por fim, o efeito “flushing” (suplementação densa antes do parto) reforça a importância do manejo adequado e do uso de pastagens de qualidade com suplementos ricos em grãos para as vacas. Suplementar as novilhas antes da estação de monta aumenta a taxa de prenhez e promove a programação pré-fetal, resultando em embriões mais saudáveis e crias com alto potencial de desempenho na recria e engorda.
Essa ideia se aplica também para as vacas, porém com mais uma possibilidade de ajuda, que é de aumento da eficiência reprodutiva.
Fazendo um resumo da importância da suplementação com grãos para animais de cria:
- O pasto em oferta e qualidade associado com a suplementação com grãos adequada é a melhor estratégia,
- O Suplemento mineral adensado é a próximo suplemento das fazendas de cria,
- O momento para melhorar o escore das fêmeas magras e na desmama use proteicos e proteicos-energético mesmo que em pouco tempo.
- Tente usar a técnica do creep-feeding! Porém, se não conseguir forneça proteico para suas fêmeas que estão amamentando.
- Animais de reposição ou que vão ser trabalhados na fazenda devem receber no mínimo proteico ou proteico energético no pós desmama.
Viram como as coisas mudam com o passar dos anos? A pecuária nunca foi, e nunca será, engessada. Temos que ficar atentos e tirar proveito do ciclo plurianual. Para quem se preparou, a colheita virá! E quem ainda não se atentou, ainda dá tempo, pois as chuvas vieram. Se pararmos para pensar, 9 meses de gestação somados a 8 meses de desmama equivalem a 17 meses.
Contando a partir de hoje, teremos o bezerro cedo em abril ou maio de 2026. E, nessa hora, quem tiver bezerro(a) estará “nadando de braçada”, pois, com certeza, o preço será o maior já visto na história.
Dr. Pedro Paulo Tsuneda Dr. em Ciência Animal e Médico Veterinário |